segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Noite de Fim de Ano...


Ela chegou a casa ao fim de mais um dia de trabalho.
Bateu a porta atrás de si.
Acendeu as luzes e atirou a pasta para cima do sofá, descalçou os sapatos de salto alto que combinavam com o seu tailleur clássico e dirigiu-se à cozinha.
Abriu o frigorífico, encheu um copo de leite que bebeu de um trago.
Foi até ao quarto, atirou-se para cima da cama, fixou os olhos no tecto e tentou descontrair.

Mais um dia passara.
Mais umas decisões tomara, mais uns objectivos cumprira, mais algumas estratégias definira, para que nenhum cliente pudesse inventar defeitos.

Tinha fama de ser uma excelente profissional, todos admiravam a sua competência, vivendo rodeada de telefonemas, solicitações, almoços e jantares de trabalho, reuniões urgentes. Os seus pareceres técnicos eram pagos a peso de ouro, a sua agenda preenchida até ao último minuto, mas… voltava sempre para casa só… e… só ficava, até no dia seguinte o despertador tocar e mergulhar de novo na vida.

Nunca pensava muito nisso, mas hoje era uma noite especial, hoje era a noite em que ninguém queria ficar só, hoje era a noite em que ninguém ia sair com ela, por mais números de telefone que marcasse percorrendo a sua agenda de A a Z.

Hoje ia ficar só, tristemente só.
Sentiu uma lágrima a percorrer-lhe o rosto e para não sentir as outras que teimavam em saltar, levantou-se bruscamente e foi até à sala.
Olhou o pinheiro enfeitado e acendeu-lhe as luzes dando-lhe uma nova vida.
Sorriu, afinal hoje era noite de Fim de Ano, merecia um pouco de cor, brilho e alegria apesar de não ter ninguém com quem a partilhar.

Será que não teria mesmo?
Subitamente foi até ao outro canto da sala, ligou o computador e aquela maravilhosa ADSL que lhe trazia o mundo e lhe permitia o sonho.

Sentou-se à frente do écran colorido e bastaram-lhe alguns segundos para digitar username, password e entrar no universo virtual.
Ansiosamente conectou um server de IRC e entrou num qualquer canal, em busca de alguém que a pudesse conter, nessa solidão imensa que sentia.

Olhou para todos os nicks presentes no canal, respirou fundo e com a certeza de ser ouvida pelo menos por um deles teclou, sem hesitar:

“Olá! Eu sou a Sweet e esta noite não quero ficar só”.

Imediatamente uma janela se abriu no seu monitor e ela sentiu o seu coração bater mais forte, ao ler a mensagem:

“Olá! Eu sou o Frog e esta noite também não quero ficar só”.

Ela sorriu e suspirou aliviada, pelo menos este ano teria alguém com quem partilhar a última noite do ano e brindar a chegada de 2008.

Ao Fim...


Hoje comprei um livro, última compra do ano, é bom que seja um livro :-)
O Amor é...
do Júlio Machado Vaz, claro!
Meu "companheiro" de horas vagas, de aprendizagens, que sempre despoleta em mim questionamentos pessoais e profissionais muito úteis ao longo de vários anos.
Com ele também, aprendi a gostar de poesia. Foi ele, sem dúvida quem me apresentou como ninguém um dos meus poetas favoritos Eugénio de Andrade.
Transcrevo aqui a abertura desde seu novo livro, com um escrito lindíssimo com o qual HOJE, me identifico totalmente.
"Ao Fim
Ao fim são muito poucas as palavras
que nos doem a sério e muito poucas
as que conseguem alegrar a alma.
São também muito poucas as pessoas
que tocam o nosso coração e menos
ainda as que o tocam muito tempo.
E ao fim são pouquíssimas as coisas
que em nossa vida a sério nos importam:
poder amar alguém, sermos amados
e não morrer depois dos nossos filhos."
Amalia Bautista
In O Amor É.... Júlio Machado Vaz com Ana Mesquita e António Macedo. 2007. Texto Editores, Lda. pp 11

domingo, 30 de dezembro de 2007

O que realmente interessa...


Saúde;
Saúde;
A minha família nuclear;
Os Amigos que HOJE caminham ao meu lado, vivendo comigo o aqui e agora;
Saúde;
Os momentos de partilha;
As viagens;
O meu trabalho, do qual ainda consigo retirar prazer;
A mesa do canto, no “Café Aroeira”, onde, de vez em quando, saboreio a minha bica e onde tudo pode acontecer;
E... a Saúde.

Selva Urbana...


“Selva Urbana” o programa que acabo de ver na SIC. O drama das crianças guineenses que vêm a Portugal ser operadas para poderem sobreviver, são curadas, devolvidas ao seu país e entregues à sua sorte. Um trabalho de equipa extraordinário dos nossos hospitais, mas muitas vezes inglório, porque as condições existentes na Guiné não favorecem a qualidade de vida destas crianças e os cuidados de que necessitam.
É na Guiné e Portugal faz o melhor que pode e sabe. Gostei da reportagem, estamos de parabéns.
Ao meu lado, na rua dos meus pais existe um sem abrigo que por lá “vive” há 4 anos.
Hoje a minha mãe presenciou outro sem abrigo, que lhe roubou as carcaças que tinha num saco e os cobertores imundos.
É em Portugal e Portugal não está a fazer o melhor que sabe e que pode.
Ficámos impressionadas e que fizemos? Nada, além de repor carcaças e cobertores que daqui a uma semana estarão imundos.
Fico feliz por podermos ajudar outras pessoas, crianças de outros países.
Fico triste porque este sem abrigo “vive” há 4 anos na rua e no virar de mais um ano ficou sem as suas carcaças e sem os seus cobertores imundos.
2007 desiludiu-me em muitas frentes. Fico feliz que acabe e espero que a médio prazo eu possa perceber o propósito de algumas mágoas, descrenças e más notícias, à semelhança de 2002.
“Mas não chove todos os dias”!

Um bom momento...


quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Mas não estaremos todos VERDES?

Em tempo de balanços, veio-me à ideia uma frase que recorrentemente, num dos meus grupos de amigos, repetimos, ainda hoje, em tom de brincadeira, ironia, quando a nostalgia nos bate à porta:
"Mas não estaremos todos VERDES?" (lembras-te M?).
No tempo em que éramos todos mais novos e tínhamos realmente a vida mais "fácil" e "sobravam" muitas horas para passarmos juntos bons bocados, alguns de nós gostavam de escrever e partilhar histórias, entre outras actividades.
Há uns 14 anos, num momento em que andava embrenhada em manuais freudianos e não só, escrevi, para me libertar do cansaço e do stress, a história do homem que tinha um problema com a cabeça e com a cor verde. Imediatamente, saiu o mote que serviu de base para a frase que nos acompanha desde então e ainda nos faz soltar uma boa gargalhada.
Acho que nem eu, nem mais ninguém a leu, desde esses tempos. No meio dos meus papelinhos hoje encontrei-a e não resisto em deixá-la aqui para a posteridade, porque esta é uma historia com história.
Esta é a verdadeira "private joke", alguns vão entender, outros vão achar disparatada a história e este meu post.
Corro o risco!

A história...


O seu problema era a cabeça e essa enorme vontade de vaguear, no tempo, no espaço, no mundo, no seu sofá, ao som de uma qualquer canção de esperança.
Envolto num turbilhão de ideias, projectos, trabalhos, canseiras, pessoas, cheiros, sons, não saía da sua sala, temendo o vazio do mundo lá fora.
Não saía, nem precisava de o fazer, nunca estava sozinho, o pensamento era o seu melhor amigo e não o queria partilhar com ninguém … nem com ela.
Só descobre os mistérios da mente, quem não tem medo de a enfrentar e ele, não o tinha.
Eram dias e noites a viver aventuras na sua sala verde. E comia e bebia e sonhava e pensava e dormia, sem nunca sair do mesmo lugar. Por vezes olhava da janela, o mundo lá fora e pensava: “que tontos são... não têm nada!”.
E ele, que tinha?
Tinha-a ao anoitecer, sentada na sua sala verde, ao seu lado, a ver telenovela e, acima de tudo, tinha a sua cabeça, onde percorria o mundo…. Onde vivia.
O seu problema era a cabeça. E para quem é que o problema não é, a cabeça?
Ele, ao menos, sabia-o.
E é dele que falamos, das suas aventuras, desventuras, dos seus segredos e ilusões, enfim... Da sua cabeça, o seu maior problema.
A SEGUNDA-FEIRA era o seu melhor dia da semana, era o dia da esperança.
Tudo podia acontecer. O tempo podia mudar. Ela podia não voltar, podia ficar mais bela, menos chata, mais meiga, talvez como há 30 anos atrás. “Afinal, porque é que um homem casa?” Perguntava muitas vezes a si próprio.
Bom, mas a segunda-feira não era o dia de pensar na vida, pelo menos na sua vida presente. Era o dia dos planos, das grandes viagens. Acima de tudo, era o dia em que ficava só.
Lembrava-se dos seus tempos de criança, e da sua preocupação em saber qual o rumo que seguiria quando “fosse grande”. Tinha pensado em ser polícia ou bombeiro, talvez por causa das fardas, ou quem sabe, pela admiração que a Clara tinha por elas.
A Clara! Cada vez que pensava nela ainda sentia um aperto, uma saudade dos tempos em que ainda era menino e a olhava com respeito e, mais tarde, quando o seu corpo lhe pregava partidas, ao vê-la passar, com figura de mulher e perfume de pecado.
Tinham-lhe dito há pouco tempo que a Clara estava gorda, feia e velha. “Mas não é como estamos, todos?”.
Agora, “grande”, com a farda bafienta no armário, já não tinha profissão, por isso às segundas-feiras, continuava a viajar na sua sala, para outros mundos, lugares belos, distantes, infinitos, irreais, verdes.
Além da cabeça, o seu problema era também a cor verde.
Verde, cor da esperança, do bosque, das esmeraldas, quem sabe por ser a cor dos olhos da Clara e das garrafas que tinha aberto para a esquecer e que ainda hoje abria, sabe-se lá porquê!
À noite quando a casa mergulhava no silêncio, fechava os olhos, sentia-se livre e voava. Voava nesse seu mundo louco, voava para muito longe, esquecendo-se que estava no seu sofá, na sua sala verde e encerrado na sua própria vida.
Toda a sua existência tinha sido passada a conhecer o mundo real, lugares, pessoas, costumes. Tinha passado tempo demais entre malas, salas de embarque, rotas traçadas, aviões e em lugares misteriosos, civilizados, selvagens e paradisíacos.
Conhecia o planeta inteiro, mas nada o atraía tanto, como o seu mundo interior, tão belo, tão distante, tão diferente. Agora que o descobrira, queria ficar preso nele, desvendá-lo, conquistá-lo, nem que para isso tivesse que abrir mais garrafas.

Afinal o problema era mesmo a sua cabeça... mais do que a cor VERDE.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007


Não tenhas medo, ouve:
É um poema.
Um misto de oração e feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente.
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar
Ou nas restantes horas de tristeza
Na segura certeza
De que mal não te faz
E pode acontecer que te dê
PAZ...

(Miguel Torga, Diário XII)

Feliz Natal e um óptimo 2008...

E estamos em época natalícia.
Em contagem decrescente para o virar de mais um ano.

Uns vivem estes dias cheios de alegria, outros profundamente tristes.

Resta a certeza que ninguém fica indiferente a esta urgente necessidade de demonstrar e receber afecto nesta época do ano quer seja através das prendas, dos telefonemas e com a modernidade dos tempos, através de e-mails, cartões electrónicos e mensagens de telemóvel.

E os outros meses do ano?

Quanto a mim...
É a saudade e a nostalgia que impera nesta época, porque não somos todos iguais.

Deixo aqui um poema lindíssimo de Miguel Torga, porque é nosso e este é o centenário do seu nascimento.

Fiquem felizes.

Evidências...

Para escrever, basta uma folha e uma caneta.
Para começar, basta estar sem fazer nada?

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Lisboa...

Porque gostaria muito de saber desenhar.
Porque desenhar infelizmente não é genético.
Porque me apetece sempre voltar para Lisboa.
Porque Lisboa é muito bonita e especial.
Porque Lisboa tem encantos e recantos mágicos.
Porque esta é a "minha" Lisboa.
Porque hoje Lisboa amanheceu linda.
E porque... SIM!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

"A amizade é um amor que nunca morre"


Mário Quintana

Natal... Natal!


Porque este é um "pedacinho" de um Tempo.
Porque me traz memórias boas.
Porque marcou uma época de outras vivências.
Porque os olhos brilhavam.
Porque estamos numa época em que as emoções se sentem mais.
Porque se sentem mais saudades dos que hoje não podemos "ter".
Porque neve, lareira, conversas e amigos combinam.

Porque me apeteceu!

Diários de Viagens...


Diários de Viagens...


domingo, 16 de dezembro de 2007

sábado, 15 de dezembro de 2007

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Diários de Viagens...

Se as pessoas são o melhor e o pior do mundo, viajar é certamente o melhor do mundo.
Viajar com as pessoas que gostamos é o êxtase total.
De algumas viagens, guardo diários, registos vivos de momentos, sentimentos, cores e paisagens olhadas com alma e sempre em boa companhia.
Porque as pessoas e os lugares tornam-nos mais ricos.
Estes meus diários são os meus verdadeiros "Apontamentos Sentidos".
Apeteceu-me partilhar alguns.
Todos eles são escritos in loco, com o que me sai no momento, sem grande preocupação na escrita, apenas com o intuito de guardar de alguma forma, momentos únicos que fui vivendo e que me tornaram mais completa interiormente.
Por vezes de algumas páginas ganham vida algumas histórias.
Habituei-me a viajar com folhas de papel, tesoura e cola, ingredientes básicos dos testemunhos por vezes meio "adolescentes" que deixo aqui registados.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A Bíblia: Toda a Palavra de Deus...








Mais uma vez a Companhia Teatral do Chiado está de parabéns.

Depois de ter visto "As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos", e achado hilariante, aventurei-me (é o termo correcto) a sentar-me numa das cadeiras do Teatro-Estúdio Mário Viegas.
A fórmula não varia muito, mas continua a funcionar.
Não sou de riso fácil em espectáculos, mas mais uma vez fiquei rendida aos textos e à encenação que não nos deixa respirar um só momento.
Vale a pena aventurarem-se. Não se vão arrepender.
Aqui fica o Blog oficial:
http://abibliasintetizada.blogspot.com/

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007


eterno

é o sol
e apenas
por enquanto

José Diniz
In O Homem.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

"...Nos meus sentidos a imagem desta hora..."*


Hoje, curiosamente, apetecia-me reflectir sobre os jornais/notícias, numa vertente nada simpática: a do excesso de informação que retira muitas vezes a nossa espontaneidade nas conversas e nos temas que abordamos com as pessoas com quem vamos convivendo e partilhando o dia-a-dia. Trocamos mais informação do que partilhamos vivências e olhamos para os outros. Ficará para outras luas.

Inesperadamente sou surpreendida por 2 notícias num mesmo dia que me fazem reflectir no país em que nos estamos a tornar. Que me deixam desconfortável, que me podiam ter tocado à porta, que me impelem a escrevinhar estas considerações.
O melhor do nosso pior. A morte. A morte, por assassinato violento, por encomenda.
Um corpo de um homem cravejado de balas ao sair de sua casa, no Norte. Um corpo de um homem morto à facada encontrado num carro, abandonado numa praia nos arredores de Lisboa. Um segurança da noite e um director dos CTT. Hoje, porque infelizmente não foram os primeiros.
Também aqui já se pode matar por encomenda.
“Alípio Ribeiro disse apenas: "Vai parar. Tenho a certeza disso"” In Público.
E se ele se enganar nas suas certezas?

Neste nosso cantinho à beira mar plantado a Globalização bate à porta, não tão levemente assim, para nos mostrar as maravilhas de pertencermos a esta Aldeia Global. Só que infelizmente não há bela sem senão e uma das nossas características mais marcantes, “brandos costumes”, tem os dias contados.
Curiosamente hoje um dos títulos do Público era “Mortalidade infantil atinge valor mais baixo de sempre em Portugal”. Este é também o país onde, hoje, nos Olivais roubaram as meias doadas que seriam destinadas aos sem abrigo.
Estamos de parabéns?
Ou... Nem tanto assim?
* In "Hora" de Sophia de Mello-Breyner

Tempo... desejado...

Inverno!!
Dias frios, ventosos, cinzentos, molhados...
E lá dentro, uma sala, uma lareira que crepita, uma mesa...
Na mesa uma sopa fumegante e reconfortante...
Duas velas marcam presença e,
Convidam a uma noite com trocas de histórias vivias ou sentidas...
Olhos que se colam,
mãos que se espreitam,
pulsão que pulsa,
corações que se atrapalham,
lábios que se olham...
Conversas que se cruzam, que se completam, mas que nunca se esgotam e nunca se afastam...
Vozes que não sabem gritar,
Que se aninham como se uma fossem...

domingo, 9 de dezembro de 2007

Do meu pai...

Teus olhos cinza, azulados,

Em teu rosto miudinho,

Rendem todos num olhar.

E com esse teu jeitinho

Sabes muito bem levar

A água ao teu moínho

27-3-1994

Poema a uma certa senhora...

I
Há poemas e poemas,
Poetas e poetastros...
Ninguém quero enganar
em três tempos vou deixar
a Poesia de rastos

II
Mas não quero, mesmo assim,
deixar a data escapar
não sou poeta? É pena
pois gostava, num poema,
este dia festejar

III
Fazer vinte, ou trinta anos
não é nada de espantar,
mas é só para alguns apenas
fazer mais umas dezenas
e aos noventa chegar

IV
Dizia João de Deus
numa linda poesia,
fazer anos, mas que tolo,
é de gente sem miolo,
é burrice, é teimosia

V
Não é verdade afinal,
nem estava certo o João
pois não é qualquer pessoa,
nem é de maneira à toa
que se chega a noventão

VI
Esta vida é um caminho
bem difícil de trilhar
fazê-lo sem tropeções,
apesar dos encontrões,
é caso para festejar

VII
Certo é que preço tem
uma tão linda idade:
são as pernas, são as costas,
mas é assim que se mostra
toda a força de vontade

VIII
Devagar, devagarinho,
se Deus quiser há-de ser...
É o lema da Ofèlinha!
Toca a sua campainha
e tudo à mão lhe vai ter

IX
Passa o tempo a fazer planos,
danadinha para jogar:
Totoloto, Casa Cheia,
até o Buda chateia
p'ra sorte fazer virar

X
E já tem as contas feitas
para quando o prémio chegar
é para este, é para aquele,
ninguém vai ficar sem "ele"
toda a gente vai ganhar

XI
Se isto é um julgamento,
a sentença eu vou ler:
Já que está habituada,
é desde já condenada
a continuar a viver

XII
Aos jurados, um apelo,
certo que vão apoiar:
Estarmos todos reunidos,
alegres e divertidos,
quando aos cem anos chegar

(Do meu pai para a minha avó, no dia dos seus 90 anos)

sábado, 8 de dezembro de 2007

Para pensar... em tempo de Cimeira...















Mala 32 euros
Alimentos para uma semana 4 euros

BOSS AC... uma surpresa... boa...


Os rótulos são ineficazes...
Impedem-nos de conhecer, verdadeiramente, os outros.
Limitam o nosso olhar sobre o mundo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Escrever...


“Escrever ajuda a ultrapassar a solidão.
Escrever ajuda a encontrar a Paz.”


Miguel Sousa Tavares


Gostei de ouvir a entrevista do MST no "Pessoal e Transmissível".

Nunca imaginaria que estas frases pudessem ser dele e também as achei muito bonitas.
Construimos imagens das pessoas, muitas vezes impregnadas com o nosso quadro de referências, talvez por isso, elas ainda nos surpreendam, felizmente e também pela positiva. Nunca me passaria pela cabeça que o MST escrevesse também para ultrapassar a solidão.

Fiquei com vontade de ler o "Rio das Flores", gostei muito do "Equador" (que estava no top de vendas em Salvador da Bahia) e gostei ainda mais do "Sul" que acciona ainda em mim a vontade de viajar pelo prazer de me deixar levar pelas cores e sabores dos lugares.


















Escrever...
Também eu gosto de escrevinhar e fazer colagens durante as minhas viagens, para "guardar" o que vivo.

Escrever...
Hoje, apetecia-me saber escrever.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Porque é muito bonito...

AS ESTRELAS

Somos as estrelas que cantam.
Cantamos com a nossa luz.
Somos os pássaros de fogo.
Voamos para lá do céu.
A nossa luz é uma voz.
Abrimos uma estrada para os espíritos
passarem.
Entre nós há três caçadores
caçando um urso.
Nunca houve tempo
em que não caçavam.
Não tememos as montanhas.
Este é o caminho das estrelas

"Algonquinos"
In
ROSA DO MUNDO
2001 poemas para o futuro, pp 161

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Escolhas...


DE PROFUNDIS...

foste sempre aquele que farejava a tempestade
antes das aves marinhas
o terror do descalabro mandava calar tua boca bem esculpida
teus olhos já sem brilho

nenhuma palavra tinhas que previsse o longo naufrágio
que já boiava em vagas de crista aliciante

gritaste aos sete ventos todas as palavras
para proclamar as tuas vidas
que apenas te conduziram à forma derradeira

mas os ventos eram contrários e nada traziam
para a baía azul onde eu
sentado
meditava

e foi assim que caminhaste o teu caminho

esquálido e sempre descontente

agora já é tarde, mas a pergunta fica:
porque não falaste a tempo?
porque não choraste em campo aberto?
porque não gritaste ao mundo sádico e áspero
tua angústia alucinante
tua profunda infelicidade?

agora há apenas mais um pouco de areia em marrocos...


(José Diniz)
In O Homem (1993). Ed Tertúlia. Lisboa. pp 79

sábado, 24 de novembro de 2007

Hoje, eu não me recomendo...


Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há
Fico fora de combate
(...)

Amanhã eu sei, já passa
Mas agora eu estou assim...
Hoje perdi toda a graça
Não queiras saber de mim

Dança tu que eu fico assim
Porque eu estou que não me entendo
Não queiras saber de mim
Hoje não me recomendo

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Ar Condicionado...

Amanheço para mais uma semana de ritmos e rituais adivinhados.
Atravesso esta minha Lisboa que hoje se veste de sombra e acordou lavada.
Enfrento o dia, já esquecida do que é trabalhar com o “ar, condicionado” pela temperatura que faz lá fora.
Estranhamente hoje tenho mais “clientes” que espreitam pela porta do meu gabinete e simpaticamente insistem em desejar-me os “bons dias” e saber como estou, várias vezes, ao longo de todo o dia. Entram, sentam-se e alongam-se, nos relatos das suas aventuras de “fim-de-semana”, nas suas perguntas, nas suas preocupações.
Hoje, foi o primeiro dia de frio!
Hoje, foi o primeiro dia em que liguei o aquecimento que todos os anos trago de casa.
Amanhã vou trocar o meu colar pelo cachecol e preparar-me para mais “clientes” simpáticos/enregelados que vão continuar a querer saber como estou, várias vezes por dia, pelo menos até chegarem os primeiros dias solarengos da Primavera.
Como é possível aprender e ensinar com frio?

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

II Grupo de Encontro... o primeiro...


Inscrevi-me a medo, sem saber o que iria encontrar. O panfleto que tinha à frente em nada me esclarecia. Reunião comunitária, reunião de grande grupo, reunião de pequeno grupo eram termos que não me diziam nada. Afinal qual seria o tema?
O facto de ficar “fechada” durante 3 dias com pessoas que nunca tinha visto assustava-me. Por outro lado era um desafio que me atraía. Saber até onde eu poderia ir, pôr-me à prova perante uma situação nova, fez-me pegar na mala e “embarcar” de olhos vendados, numa viagem cujo destino eu desconhecia.
Os primeiros minutos foram desconfortáveis, toda a azáfama da chegada de pessoas incógnitas que na sua maioria se conheciam entre si, a distribuição dos quartos, a perspectiva de adormecer e acordar no quarto com uma pessoa desconhecida para mim, não contribuíram em nada para a minha convicção de querer ser uma “Rogeriana” um dia.
O primeiro momento foi assustador, setenta pessoas todas sentadas à volta de uma sala, numa roda fria e silenciosa, onde só intervinha quem queria, numa liberdade, para mim, incómoda. No final da primeira reunião alguém dizia que no último dia seriamos um grupo, coisa que me pareceu impossível.
Fui percebendo ao longo dos dias, dos vários momentos e das sessões que o grupo seria o que quiséssemos fazer dele, deixando-me também numa posição pouco confortável, uma vez que sentia, como membro do grupo, alguma responsabilidade de o levar a bom porto, ou pelo menos ter um papel activo. A pouco e pouco, também me apercebi que era aceite quer interviesse ou não, quer emitisse uma opinião ou fizesse um desabafo. A partir do momento em que me senti aceite, estranhamente, as ideias e os sentimentos fluíam em catadupa com uma urgência inexplicável. Quase não intervim mas senti-me confortável na minha introspecção acompanhada. Ao longo dos dias senti-me irritada com alguns elementos, empática com outros, as lágrimas saltaram dos meus olhos, ri, passei por todas as tonalidades dos meus sentimentos.
Na última sessão fiz um balanço dos dias. Curiosamente não me tinha sentido só, apesar de não conhecer ninguém, não tinha feito diferença o facto de ter dormido com uma estranha, convivi, conversei e diverti-me com as setenta pessoas e acima de tudo agora elas não eram caras incógnitas mas sim rostos com personalidade própria unidas por um sentimento de empatia e um percurso conjunto. Tinha sido uma experiência única.
Ao pegar no carro para regressar a Lisboa não percebi logo o que tinha mudado em mim, mas senti uma paz interior, uma vontade de mudar o mundo, uma força que vinha de dentro.
Mal eu sabia que no dia seguinte toda essa força iria ser necessária para enfrentar uma partida que a vida me iria pregar...
E foi assim que me tornei uma "Rogeriana" convicta, experienciando na pele as técnicas da Terapia Centrada no Cliente/Abordagem Centrada na Pessoa que venho estudando e aperfeiçoando na minha prática profissional ao longo dos últimos anos.

sábado, 10 de novembro de 2007

Correntes...

Hoje acordei muito cedo (quase ontem).
Não gosto da palavra insónia. Um grande amigo, carinhosamente, diz que esteve “com a Sónia”. Insónia é uma palavra desagradável. Nunca me preocupo muito com ela, se me assola, levanto-me e gosto de ficar a remexer, nos meus livros, nos meus filmes, nas minhas fotografias, nos meus “papelinhos”. Gosto de estar na minha sala, com a minha música a ver o dia nascer.
Da minha janela, tenho a sorte de ver a serra de Sintra e o recorte do Palácio da Pena, lugares especiais da minha infância. Sou uma afortunada, há uns meses levei lá uns amigos espanhóis e enquanto palmilhava o Castelo dos Mouros (agora pago), lembrei-me das mil e uma tardes em que a minha mãe ficava a ler no carro e eu e os meus amigos corríamos soltos por entre muralhas e guaritas a brincar aos príncipes e às princesas (outros tempos).
“As conversas são como as cerejas”, e sentei-me eu aqui para escrever um post sobre correntes! Aquelas que se recebem na Net e nos acontecem desgraças imensuráveis se as quebrarmos. Lembrei-me também que quando era “aborrescente”, no tempo em que ainda nem se sabia o que era um computador, nem fotocópias e as correntes chegavam por carta, tinha uma amiga que as respeitava e meticulosamente as copiava com uma letra redondinha, com receio de alguma intempérie. Certamente ficou com uma caligrafia melhor que a minha. Detesto correntes e similares.
Numa destas noites, a viajar à boleia de diferentes olhares deste nosso mundo, por entre blogues sugeridos, encontro uma “corrente”, num blogue de que gostei especialmente (
http://ruialme.blogspot.com/). Senti-me desafiada e lanço aqui também o desafio.
Não, não vos acontece nada de mal se mandarem a corrente às ortigas!

Regras:
1. Pegue no livro mais próximo, com mais de 161 páginas – implica aleatoriedade, não tente escolher o livro;
2. Abra o livro na página 161;
3. Na referida página procurar a 5.ª frase completa;
4. Transcreva na íntegra para o seu blogue (ou para este) a frase encontrada;
5. Aumente, de forma exponencial, a improdutividade, fazendo passar o desafio a mais cinco bloggers à escolha.

Eu deixo aqui a minha:
"Eu pensava que este Whisky era excelente até que você me disse que não." In O Quinteto de Buenos Aires. Manuel Vásquez Montalbán. pp 161. (não, não estava na hora de serviço).
E passo a outros 5, por exemplo: Téllo, Embirrante, Luzinhas, Antó(nimo), Museólogo... se estiverem para aí virados... ou a outros.

Quem sabe se com uma das frases se começa uma boa história, numa noite de insónia ao som do fantástico Keith Jarrett, em “The melody at nigth, with you” que passa aqui neste momento...

Insónias...

Insónia

Que horas são? É escuro. Quase as três.
Parece que não torno a fechar os olhos.
O pastor da aldeia faz estalar o chicote à alvorada.
O vento frio soprará na janela
que dá para o pátio.
E estou só.
Não é verdade. Com
toda a onda penetrante do teu
ser puro, tu estás comigo.

Boris Pasternak
(In Poetas Russos, tradução e prólogo de Manuel Seabra, Relógio d'Água, 1995)
http://ruialme.blogspot.com/

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Porque... Sim!


Mar Sonoro

Mar sonoro, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

(Sophia de Mello Breyner)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

I Grupo de encontro...

Pela quinta vez, suspendo a minha vida durante três dias e rumo, este ano a Palmela, com o mesmo frio na barriga de sempre mas com a certeza (de sempre também) de dar mais um passo consistente na minha formação pessoal e profissional.

Para trás deixo, exausta, o dia atulhado de reuniões, telefonemas, jovens que atendi, outros que não consegui atender, conversas interrompidas, e até um mal entendido que me deixa desconfortável. Deixo também a família e os amigos descansados porque já vão estando habituados a estas minhas ausências e certos de que não entrei nem para uma seita, nem para uma religião desconhecida e, que apesar de não entenderem, ainda muito bem, o que "por lá" se passa, sabem que voltarei sempre a "velha" Teka.

São 20h, entro na mesma quinta, onde me iniciei e não posso deixar de recordar aquele Novembro de 2002. Vim aqui também, este ano, para me reconciliar, para encerrar de vez o único capítulo que está entreaberto daqueles tempos, porque muito marcado por este lugar lindíssimo.

Como veterana de Grupos de Encontros venho munida das ferramentas básicas: abertura, responsabilidade, vontade para estar comigo e com os outros, alegria por rever alguns amigos, tampões para os ouvidos, borracha de água quente, agasalhos extras.

Ao fim de 3 dias intensos parto, exausta também, mas com a convicção inabalada de que este caminho que escolhi é o MEU CAMINHO...

Até para o ano!Carl Rogers dedica parte da sua vida profissional a desenvolver e experimentar a mudança de atitudes, comportamentos em grupos intensivos e organizados para o efeito.
Corria a década de 40 do séc. passado e a investigação na área do desenvolvimento e aperfeiçoamento da comunicação e relações interpessoais bebia conceitos desenvolvidos por Kurt Lewin, pela Gestalt e pela Abordagem Centrada na Pessoa.

Rogers refere que com a desumanização das sociedades, em que o outro não tem espaço e a constante luta para vencer o dia a dia e sobreviver a todas as necessidades materiais, frequentemente esquecemos as nossas necessidades psicológicas. Necessidades essas que consistem na urgência da vivência de relações próximas e verdadeiras, bem como a manifestação espontânea de sentimentos e emoções num clima de aceitação incondicional.

Surge o interesse pelas experiências intensas de grupo a que Rogers não é alheio, introduzindo e desenvolvendo de forma sistemática, uma modalidade a que denominou "Grupo de Encontro" com a finalidade de "acentuar o crescimento pessoal e o desenvolvimento, o aperfeiçoamento da comunicação e das relações interpessoais, através de um processo experimental." Carl Rogers (1970).

Todos os Grupos de Encontro têm, em regra, algumas características comuns:

  • Experiência intensa de grupo durante várias horas;
  • O grupo não é estruturado;
  • Existência de um facilitador cujo seu papel é fundamental para o funcionamento construtivo do grupo;
  • É construída uma sensação de comunicação autentica;
  • Facilitação da expressão de sentimentos e pensamentos;
  • O grupo caminha na linha dos objectivos e direcções pessoais;
  • O grupo concentra-se no “processo e na dinâmica das interacções pessoais imediatas” (Rogers, 1970);
  • Um clima de confiança mútua.

Desde 1984 que em Portugal são promovidos "Grupos de Encontro segundo o modelo de Carl Rogers.

Para saber mais:

http://www.appcpc.com/

Rogers, C. (1970). Grupos de Encontro. 8ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Tempos...



"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."

(Fernando Sabino)

domingo, 28 de outubro de 2007

sábado, 27 de outubro de 2007

Para pensar...
















"Pint of Beer - 4.50 Euros
50 liters of fresh water - 1.50 Euros"

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Os melhores sketches dos Monty Python...

Quem não ficou seduzido pelo humor diferenciado e mordaz dos Monty Python nos anos 70/80 (os da minha geração claro)?
"A vida de Brian" (1979) e "O Sentido da Vida" (1983), os meus filmes preferidos sem dúvida.
Fiquei entusiasmada com a possibilidade de rever os Monty protagonizados pela prata da casa.
Ontem vi uma tradução e adaptação do Nuno Markl de alguns Sketches escolhidos. Na minha humilde opinião, a maior parte deles não foram bem escolhidos.
Foram sem dúvida bem encenados (António Feio) e seguramente bem interpretados (António Feio, Bruno Nogueira, Jorge Mourato, José Pedro Gomes e Miguel Guilheme).
Mas nalguns sketches nem o meu melhor sorriso amarelo foi esboçado.
Fiquei com saudades de rever outras coisas ou novas da tripla imbatível (António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme) não desfazendo do resto do elenco.
Lembram-se da fabulosa peça "Arte" em que a tripla fazia brilhantes considerações à volta de um quadro a óleo branco com traços brancos?
A noite valeu também pela companhia!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

"Estou... de volta pro meu aconchego...


...Trazendo na mala bastante saudade
Querendo
Um sorriso sincero, um abraço,
Para aliviar meu cansaço
E toda essa minha vontade..."

domingo, 21 de outubro de 2007

Sinto... aguardo... paciente... porque os carteiros chegam a todos os lugares do mundo...


“Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.”

(Pablo Neruda)

A magia dos sabores e dos sentidos da Bahia...



















À beira do mar, o acarajé é Rei, acompanhado da Brahma gelada e de partilhas especiais interrompidas por mergulhos no mar que energizam a alma, neste lugar amado do meu mundo, onde o corpo fica mais quente, mais salgado, mais livre, sentindo à flor da pele a beleza de estar aqui e poder viver a emoção de ser especial.



















Dentro de portas, o carinho com que se recebem os amigos, com que se aguçam paladares, com que se doam momentos de vida, faz valer a pena estar vivo, aproxima corações, alimenta recordações que encurtarão a distância... quando as saudades apertarem... quando os dias estiverem tristes... quando eu "morar no interior do meu interior"...




















E quando um dia a noite chegar
E quando o beija flor não me vier mais cumprimentar
E quando o pássaro preto não me encantar mais com a sua alegria e não me pedir que acaricie as suas penas suaves
E quando os cachorros não me saudarem
E quando a jarra dos antúrios não animar mais o meu quarto
E quando eu já não puder abrir o meu livro perfumado, das pontes
E quando as mãos não se conseguirem entrelaçar
E quando os olhos não se puderem tocar
E quando as persianas se fecharem...

Não faz mal...
Estará tudo inviolado dentro de mim!


sábado, 20 de outubro de 2007

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

domingo, 14 de outubro de 2007

O Sítio da Casa Amarela...


Hoje penso como a minha vida mudou...
Acontecimentos que me privaram de muitas coisas, mas que também me trouxeram muitas outras.
O “Sítio da Casa Amarela” (4 anos passados) continua a ser o porto de abrigo das minhas emoções e dos meus sentimentos mais verdadeiros, transmite-me a mesma calma, permite-me olhar para dentro de mim e dá-me a liberdade de partilhar o que sinto, o que penso, sentir-me bem recebida, bem acolhida e amada no mais puro sentido da palavra AMOR.
O "Sítio da Casa Amarela", um lugar mágico que estranhamente faz parte de mim, onde posso ser quem sou.

Um dia Karen Blixen escreveu: “I had a farm in África”.
Eu, tenho a sorte de ter uma “Casa Amarela”, no Brasil, onde posso guardar os meus livros.


sexta-feira, 5 de outubro de 2007

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Tempos de mudanças...


E o Verão já vai longe...

O sol, o corpo quente e descoberto, a emoção de sentir mais intensamente, mais livre, mais à flor da pele...ficou retida num tempo...

O clima muda, o corpo esconde-se, as esplanadas esvaziam-se, a noite chega mais cedo, o tempo agora é outro... Convida à reflexão, à leitura no sofá, às conversas tranquilas em boa companhia...

E porque não ler e partilhar um dos mais belos sonetos do nosso Camões.

Lembrei-me agora de ti minha Sampa amiga, saudades de te ouvir ler quando as estrelas apareciam no céu, na minha sala e lembrei-me que foi assim, pela tua voz bem colocada, num tom sereno que me apresentaste Drummond de Andrade. Aqui vai para a troca... Como se estivesse a ler para ti...

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

muda-se o ser, muda-se a confiança;

todo o mundo é composto de mudança,

tomando sempre novas qualidades

Continuamente vemos novidades
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e em mim converte em choro e doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto:
que não se muda já como soía...

Luís de Camões In Líricas





sábado, 29 de setembro de 2007

Lição de vida...

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.


A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.


Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.


Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.


Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.


Ricardo Reis, 1916

Hoje aprendi com esta frase...

"- Como estais? - perguntou Hamlet.
- Feliz, meu senhor, porque não estou completamente feliz!"
In "Hamlet" no Teatro Maria Matos.
Diogo Infante é o Hamlet e o João Mota o encenador. Vale a pena, a interpretação e a adaptação estão excelentes.
O senão são as cadeiras que não estão preparadas para acomodar os nossos "ditos cujos" durante 2h.30 consecutivas.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

À nossa!... minha amiga

Viagens
Hoje penso nas viagens.
Nas nossas viagens
Nas tuas e nas minhas
Na riqueza da alma humana
Na nossa capacidade infinita para viajar
no mundo, no bairro, no sofá da sala!
Tantas viagens partilhadas já tem este nosso caminho
muitas vezes sem sairmos do mesmo lugar,
à boleia de risos, lágrimas e rotinas
Partilhamos percursos e obstáculos passados,
traçamos mapas futuros
Viajamos juntas, nas palavras, no sentir, nos silêncios, nos momentos bons e maus
Fazemos descobertas,
guardamos na bagagem pistas que definem novas rotas
Trocamos ideias com as quais crescemos, fortalecemos
mas por vezes desabamos
“Viajar é correr mundo”*
E acrescentar vida à nossa história
Porque a Vida é uma viagem...
*In http://luzinhasdeverao.blogspot.com/ poema de Alves Redol

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Registos muito pessoais...




Tranquilidade no rio Vltava

domingo, 23 de setembro de 2007

Prazeres...






"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo..."
Pablo Neruda

domingo, 16 de setembro de 2007

E Bem Vindo a quem chega à "nossa" Lisboa...

"Uma vez perguntaram a Jorge Amado o que era a Felicidade.
E ele respondeu:
"Felicidade é descer do avião."

(In Sinais de Fernando Alves, 20-6-2007)

E disse ainda brilhantemente Fernando Alves: "Gosto de chegar a aeroportos, mas também de os percorrer vendo o que resta de improváveis lugares em cada rosto, em cada modo de andar".

Também eu sou tocada pelo fascínio de me misturar entre gente que chega e parte carregando tantas histórias na bagagem, tantas aventuras e desventuras.

Gosto de me embrenhar entre corpos apressados, à procura de portas de embarque, a comparar preços de perfumes, vinhos e cremes milagrosos, a comprar pacotes de tabaco, revistas e pastilhas elásticas, a enganar o estomago de fast food.

Gosto de olhar a atrapalhação dos estreantes ávidos de informação. Num misto de receio e curiosidade, percorrem os espaços, ansiosos.

Gosto de observar as famílias numerosas com os seus pertences concentrados nas cadeiras com um guardião que exige ser rendido a cada 5 minutos.

Gosto da segurança e da indiferença ao que os rodeia, dos executivos. Viajam com uma pasta, fato e gravata impecáveis, sentam-se tranquilos a ler o seu jornal que nunca é o "Correio da Manhã", atendem telemóveis e consultam palms. Sabem sempre onde, quando embarcam, entram decididos no avião, maquinalmente guardam os seus pertences e começam a trabalhar.

Gosto de olhar rostos, adivinhar histórias de vida e destinos prováveis.

Gosto de me sentir envolvida pela expectativa do "descer do avião", de ser inundada por outra cultura, de me deixar surpreender, de tocar outros mundos, de sentir outros perfumes, outras cores e de aprender. Aprender... sempre!

Gosto, ainda mais... quando posso partilhar todo este meu sentir!

Apesar de tudo...

Ainda gosto de pessoas!